A origem desta reflexão é a triste constatação de que nós, povo brasileiro, salvo raras e louváveis exceções, não conseguimos compreender as diferenças entre ações suprapartidárias e partidárias.
Vivemos em um país que sofre da síndrome do fanatismo. Somos fãs incondicionais de cantores, jogadores de futebol, artistas de televisão e do cinema, líderes políticos e religiosos. E, infelizmente, tudo isso nos leva a reagir com imaturidade, principalmente quando as discussões envolvem política, futebol e religião.
Com tamanha passionalidade, nos tornamos cegos, partimos para as brigas, excluímos e cancelamos amigos e familiares. E tudo isso só comprova que não temos a capacidade de desenvolver análises críticas que nos permitam um questionamento imparcial sobre o certo e o errado, que nos conduzam a avaliações construtivas e que nos levem a exercer nosso direito de cobrar melhorias econômicas e sociais.
Confiança na educação pública
Hoje, não confiamos na nossa educação pública porque sabemos o quanto nosso sistema educacional é ineficiente. Mas, precisamos muito que ele dê certo. Afinal, a educação de qualidade continua a ser caminho para as transformações culturais que nos levem a uma verdadeira e necessária igualdade de oportunidades para todos os cidadãos brasileiros.
Para atestar isso, basta olharmos para os modelos internacionais de educação que deram e continuam dando certo, à exemplo da Finlândia. Claro que você pode dizer que não dá para comparar um pequeno país com o Brasil e suas dimensões continentais e diferenças regionais. Mas, sem dúvida, encontraremos algumas semelhanças, incluindo o nosso pacto social e todas as suas diretrizes que dizem respeito à educação.
Ou seja: temos o mesmo privilégio de contar com uma Constituição Federal cidadã, que contempla a educação pública de qualidade para todos, indistintamente. Um documento que obriga prefeitos, governadores e presidentes a promovê-la com eficiência. Para isso, temos previsão orçamentária e o recolhimento de impostos suficiente para garantir os recursos necessários para construirmos excelentes escolas e uma infraestrutura gigantesca para atender todos os nossos estudantes.
Valorização e capacitação dos professores
Assim, cabe a pergunta: o que tem lá e nos falta aqui?
Inicialmente, nos falta a valorização e constante capacitação de professores, diretores e secretários de educação. De uma verdadeira campanha nacional para que nossos educadores também sejam nossos ídolos. Para que as nossas crianças sonhem também em ser um professor, assim como desejam se tornar jogador de futebol, cantor ou influencer digital.
Mas, é igualmente fundamental e indispensável que se promova a independência do nosso sistema educacional em relação às políticas partidárias ideológicas. Este seria um grande diferencial, com potencial para tornar a educação pública brasileira suprapartidária e fazer com que paremos de remar em círculos, gastando recursos e energia, sem chegar a lugar algum.
Foco na formação do conhecimento
Precisamos reformar nosso sistema educacional, repensar as grades curriculares, tratar a educação com isenção e como foco principal na formação do conhecimento. Tudo isso construído acima das disputas partidárias, sem mudanças a cada quatro anos, sem descontinuidades.
Da mesma forma que são necessários conhecimentos de língua portuguesa e matemática, é preciso que desde cedo também se tenha o acesso a noções básicas de cidadania, de direitos constitucionais, das nossas obrigações e deveres, das filosofias, do acompanhamento psicológico e da participação da sociedade civil organizada.
Afastados de tudo isso, continuaremos rasteiros, permitindo que tratem a educação pública do nosso país como meio para cabide de emprego e curral eleitoreiro, afastando principalmente as camadas mais carentes da sociedade desse primordial e essencial veículo de transformação para qualquer nação do mundo.