A conscientização das pessoas em situação de vulnerabilidade social a respeito das eleições municipais é uma grande responsabilidade da qual nós, líderes do terceiro setor, não podemos nos afastar. De acordo com o Mapa das Organizações da Sociedade Civil do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), no Brasil existem 879.326 organizações sociais formalizadas com CNPJ, além de milhares de iniciativas de pessoas e organizações que atuam fazendo o bem, mesmo sem formalização.
O terceiro setor tem a responsabilidade de executar funções que o Estado deveria garantir, mas não tem condições de realizar por dificuldades operacionais, além de outros fatores, como a corrupção, por exemplo. Mas vamos pensar juntos? Quantos líderes existem no terceiro setor? Seja em pequenas comunidades ou em grandes metrópoles, temos milhões de pessoas contribuindo para o bem-estar social, como avanços na educação, na saúde, na sustentabilidade, na prevenção à violência, na inclusão.
Além de atuar na promoção de boas iniciativas, acolhimento e troca de experiências, é nosso dever compartilhar conhecimento e alertar sobre práticas que põem em risco a cidadania, como a barganha do voto, que destaco neste artigo. Em nossa condição de lideranças, precisamos ter o olhar atento para combater a miopia partidária e despertar nos cidadãos em situação de vulnerabilidade a capacidade de formar uma opinião crítica e enxergar as coisas como elas realmente são.
A miopia da polarização partidária faz com que o cidadão não enxergue que os candidatos são eleitos para representar a sociedade, incluindo as suas tomadas de decisões; ou seja, são figuras que compõem a democracia representativa. O fato é que muitos desses candidatos e partidos se colocam como “deuses”, e o cidadão, como subserviente, criando um ambiente onde, com fé, deposita-se a esperança de mudança em uma pessoa ou partido. O problema é que eles não conseguem enxergar de onde vem o poder, que está estampado no Artigo 1º da nossa Constituição Cidadã: “Todo poder emana do povo”.
Infelizmente, em muitas regiões do nosso país, a vulnerabilidade social é explorada por candidatos que oferecem favores ou pequenas vantagens em troca do voto, como um saco de cimento, um emprego, cesta básica e até mesmo o acesso a serviços que o próprio município ou estado deveriam ofertar, como marcação de consultas médicas, exames e cirurgias, uma vaga na escola, uma creche para seu filho. Essa é uma prática que precisamos combater com urgência. É nosso papel, como líderes do terceiro setor, esclarecer que essas ofertas temporárias não resolvem os problemas estruturais que todos nós enfrentamos, como, por exemplo, a fila da regulação, a crescente violência nas escolas e a falta de segurança pública. Pior ainda, estas atitudes perpetuam o ciclo de pobreza e exclusão, enfraquecendo a própria democracia.
O voto não pode ser uma moeda de troca. É o nosso mais poderoso instrumento de transformação social, e precisamos garantir que essa mensagem seja clara.
Se somos lideranças e estamos, muitas vezes, fazendo o papel do Estado, devemos ter o olhar atento para alertar sobre a miopia partidária que restringe a visão para as reais necessidades das comunidades. Não devemos aceitar que interesses pessoais ou partidários se sobreponham ao bem comum. Precisamos guiar essa parcela da população para que enxerguem além das promessas imediatistas, orientando-a a pensar a longo prazo e a considerar o impacto de suas escolhas na construção de uma sociedade mais inclusiva e equitativa.
Não podemos subestimar o poder do voto consciente e da participação social ativa. Mais do que nunca, precisamos exercer nossa liderança com coragem e determinação, garantindo que aqueles que mais precisam possam ser ouvidos e respeitados no processo eleitoral.
Se temos o privilégio de liderar, que seja para abrir os olhos de quem está à margem, para que vejam a importância de seu papel na construção de uma nova sociedade. O futuro de nossas cidades está em nossas mãos e em cada voto consciente que ajudarmos a formar, por isso, vamos assumir o nosso “Eu responsável”, e com Consciência Cidadã Participativa, contribuir para o desenvolvimento social em nosso país.
Artigo assinado por: Cris Santos – Diretora Executiva da Fundação Paulo Cavalcanti