O novo episódio do podcast É da nossa conta! que foi ao ar nesta segunda-feira (22), apresenta uma análise aprofundada sobre os desafios e o potencial da indústria nacional. Em uma conversa com Paulo Cavalcanti, o empresário José Luiz Mendes Marinho Andrade, presidente da Associação das Indústrias de Vitória da Conquista (AINVIC) e um dos acionistas do Grupo Marinho de Andrade, dono da marca Teiú, compartilhou uma visão estratégica para o futuro do setor, destacando temas como governança em empresas familiares, inovação tecnológica, o papel do associativismo e a necessidade de um projeto de nação focado em educação.
À frente de um grupo empresarial que está prestes a completar 70 anos de história — uma “raridade no Brasil”, como destacou Cavalcanti, Mendes aponta que o maior desafio é a perpetuação do negócio. Para ele, o segredo da longevidade passa por uma regra de ouro na sucessão familiar: colocar a empresa acima dos interesses pessoais.
“A pessoa jurídica, ela tem que ser mais importante que a pessoa física”, afirmou, defendendo que a instituição que gera emprego e renda precisa ser protegida de conflitos familiares para não beneficiar a concorrência.
Inovação que nasce da necessidade e vira negócio
Um exemplo prático dessa visão de futuro é a Itfaber, uma empresa de tecnologia do grupo que nasceu da necessidade de automação das próprias fábricas em Vitória da Conquista e Feira de Santana. O que era uma solução interna se transformou em um negócio inovador que hoje desenvolve robôs e vende soluções de automação para outras indústrias, inclusive em outros estados. “A gente já fez vendas para Minas Gerais. É a Bahia exportando realmente tecnologia”, comemorou Mendes, ressaltando o potencial do estado em se tornar um polo tecnológico.
Analisando o cenário macroeconômico, o empresário reconheceu o processo de desindustrialização que afetou todo o país. No entanto, ele se mostrou otimista quanto ao futuro, especialmente para a Bahia, que possui um “potencial gigante”. Segundo ele, a localização estratégica do estado é um diferencial competitivo.
“A gente faz divisa com oito estados da União. Esse mercado baiano ele pertence à gente”, provocou, incentivando as indústrias locais a “exportarem” para os mercados vizinhos.
Para que esse potencial se concretize, Mendes fez um forte apelo à união da classe produtiva. Ele acredita que os empresários precisam assumir um papel mais ativo fora de suas empresas, participando de entidades de classe para dialogar com o poder público e transmitir suas experiências. Ele fez uma autocrítica ao setor, afirmando que “o industrial também, ele ficou muito no chão de fábrica”, e que é hora de se unir para buscar soluções conjuntas e fortalecer o ambiente de negócios.
Do chão de fábrica à construção de um projeto de nação com foco em educação
Questionado sobre a capacidade do Brasil de se reindustrializar, José Luiz Mendes foi enfático ao afirmar que o país tem condições de figurar entre as maiores potências do mundo, pois já possui o mais difícil: matérias-primas, recursos naturais e empreendedores. O que falta, segundo ele, é um projeto de longo prazo com um pilar central e inegociável. “Eu enxergo que a educação tem que ser uma coisa muito prioritária no Brasil”, declarou, ecoando um sentimento comum entre lideranças produtivas. Para ele, apenas com uma base educacional sólida será possível construir uma nação industrializada e com menos dependência do assistencialismo.
A visão apresentada por José Luiz Mendes transcende o manual de gestão empresarial para tocar na essência do papel do líder produtivo na sociedade. Sua mensagem sugere que a jornada para um Brasil mais próspero começa com uma transformação interna: a do empresário que aprende a “abrir mão” em prol de um legado institucional e que compreende que sua responsabilidade vai além dos muros da própria companhia.
O chamado para sair do “chão de fábrica” e se engajar no associativismo é, portanto, um convite à construção de um destino coletivo, onde a experiência de quem gera emprego e riqueza se torna uma ferramenta fundamental para desenhar o futuro, não apenas de um negócio, mas de toda uma nação.