Em levantamento divulgado esta semana, o Banco Central revelou que os beneficiários do Bolsa Família destinaram R$ 10,5 bilhões dos seus benefícios para as empresas de apostas esportivas, as bets, apenas em 2024. Só em agosto, aponta a análise, 5 milhões de beneficiários do programa destinaram R$ 3 bilhões às casas de apostas virtuais, impressionantes 21% do total de R$ 14,1 bilhões desembolsado pelo governo federal com o Bolsa Família no mesmo mês.
Os dados causam espanto em muita gente, e nos coloca frente a um problema estrutural profundo, com todas as suas implicações para a economia do país, a estabilidade e o bem-estar financeiro desta parcela da população. O desvio de finalidade de um dos principais programas assistenciais de transferência de renda do Brasil evidencia não apenas a vulnerabilidade econômica dessas famílias, mas também, a carência de educação cidadã.
O Bolsa Família, criado com o objetivo de garantir o mínimo necessário para a sobrevivência e a dignidade de milhões de brasileiros, está sendo usado de maneira contraditória. O desvio de recursos para apostas esportivas revela ainda a ausência de educação financeira, que oriente os indivíduos sobre o uso responsável dos benefícios.
O Brasil está mergulhado em uma crise que não vai ser resolvida apenas com políticas assistenciais. É preciso também a implementação de uma ampla campanha nacional focada no amadurecimento de uma consciência cidadã participativa transformadora. Mais do que simplesmente oferecer recursos financeiros às famílias vulneráveis, é preciso orientação e formação para que compreendam que o assistencialismo é um paliativo que, se não for bem administrado, perpetua o ciclo de dependência e exclusão.
O desvio de finalidade do Bolsa Família é uma prova inequívoca de que o assistencialismo sem a educação cidadã e financeira não transformará o país. Para superar esse desafio, precisamos transformar o Brasil em uma nação onde os recursos públicos sejam usados de maneira eficaz, onde cada indivíduo compreenda seu papel na construção de uma sociedade melhor para todos.
Os dados alarmantes sobre o uso inadequado do Bolsa Família para apostas esportivas só reforçam a necessidade de uma ação que vá além do simples auxílio financeiro. A oferta de uma formação cidadã bem estruturada tem o poder de transformar comportamentos e gerar impacto real na vida das pessoas. O índice de analfabetismo funcional de 29% da população brasileira, combinado com uma distribuição de renda extremamente desigual, nos mostra que a verdadeira transformação passa, necessariamente, pela educação.
Para isso, não adianta continuar esperando que os governos com mandatos periódicos façam essa transformação sozinhos. Esta deve ser uma política de Estado, suprapartidária e suprassegmental, de toda sociedade civil organizada. E, acreditem, os que mais podem fazer por esta transformação somos nós, os cidadãos que menos precisam, mas que mais pagam pelo desperdício de recursos financeiros e sociais.
A situação é preocupante, sim, e é da nossa conta! Vamos nos indignar, mas também vamos agir. Afinal, é o nosso suado dinheiro sendo jogado fora.
Artigo escrito por Paulo Cavalcanti.