Mais de 1,3 milhão de brasileiros aguardam por cirurgias eletivas no SUS, segundo dados oficiais obtidos pelo Jornal Nacional por meio da Lei de Acesso à Informação.
A catarata que comprometeu a visão do olho direito agora ameaça o esquerdo. Sem previsão de quando será operado pelo SUS, o aposentado José Antônio Pereira vai perdendo a esperança de voltar a enxergar bem.
“Eu fico muito preocupado. E uma coisa que revolta a gente é que eles não dão nenhum parecer, falam: ‘Você está na fila, você está na fila'”, relata.
Cirurgias eletivas são aquelas não urgentes. É como se toda a população de Porto Alegre estivesse à espera de atendimento. A maior procura é pela cirurgia de catarata.
Há décadas o SUS convive com filas, e o problema se agravou por causa da pandemia de Covid, quando mais de um milhão de cirurgias precisaram ser canceladas ou adiadas.
Em fevereiro de 2023, o Ministério da Saúde lançou o Programa Nacional de Redução das Filas, com incentivo financeiro para estados e municípios que conseguissem agilizar o atendimento. Contudo, em vez de diminuir, a fila para cirurgias eletivas cresceu 26% em 2024, na comparação com 2023.
As maiores filas estão nos estados mais populosos do país. São Paulo e Minas Gerais têm, juntos, mais de 600 mil pacientes à espera de um procedimento cirúrgico, o que representa praticamente metade do total.
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirma que o SUS realizou quase 14 milhões de cirurgias eletivas em 2024 — um número recorde. Ela também destaca que o objetivo é reduzir o tempo de espera, que atualmente é de dois anos e quatro meses em média.
“Sempre teremos uma fila. O importante é trabalharmos para aumentar a produção de consultas, exames e cirurgias, além de reduzir o tempo de espera. Definimos as especialidades com maior demanda, como tratamentos de câncer, com um prazo de 30 dias para diagnóstico e encaminhamento para o procedimento necessário. Para outras especialidades, o prazo é de 60 dias”, explica a ministra.
O médico sanitarista Walter Cintra Ferreira, professor da FGV, defende que o SUS priorize pacientes mais graves. “A fila precisa seguir critérios clínicos, e não apenas cronológicos. Isso já ocorre em transplantes e deveria ser aplicado a outros procedimentos, como ortopedia e neurologia”, comenta.
Seu José, que já não consegue dirigir nem sair de casa sozinho, agora torce para que a espera não piore ainda mais sua situação. “Se me dissessem ‘Você vai operar daqui a um ano…’, tudo bem. Mas essa indefinição me preocupa. E se quando me chamarem já não houver mais jeito?”, diz.