No novo episódio do podcast É da nossa conta!, que foi ao ar nesta segunda-feira (03), Paulo Cavalcanti recebeu o consultor Adriano Câmara, referência na área de micro e pequenos negócios com trajetória iniciada no Sebrae em 1993. A conversa abordou o papel do Programa Marsúpio no fortalecimento do empreendedor popular e na construção de autonomia econômica com base no acolhimento, educação empreendedora e formalização.
Logo no início, Adriano relembrou suas origens no desenvolvimento econômico e territorial.
“Comecei no sistema Sebrae em 1993. Fui consultor e, em 1997, gerente responsável por áreas como o Subúrbio Ferroviário, Simões Filho, Madre de Deus e Ilha de Maré.”
Paulo introduziu o propósito do Marsúpio:
“O programa Marsúpio é o projeto de acolhimento do empresário informal. Queremos trazer essas pessoas para a formalidade, mas, acima de tudo, estimular autoestima cidadã e dignidade.”
Ele destacou o perfil do público atendido:
“O empresário raiz é aquele que acorda todo dia, sem ninguém mandar, para trabalhar, mesmo sem proteção, sem apoio, sem rede.”
Acolhimento, não abandono
Durante a entrevista, Adriano explicou que o grande diferencial do Marsúpio é o apoio contínuo.
“O fertilizante é pegar no braço… o indivíduo sentir que não está sozinho.”
Paulo reforçou o conceito:
“O Sebrae ensina a pescar. O Marsúpio acolhe, aproxima e sustenta a caminhada.”
Adriano detalhou o impacto da presença ativa nas comunidades:
“A informalidade é cruel. Quando você chega, visita, acompanha, a pessoa passa a se ver como parte de um novo ciclo. Isso eleva a autoestima e muda a trajetória.”
MEI como porta de entrada social
A formalização por meio do MEI foi tratada como elemento central. Como afirmou Adriano:
“O MEI é um programa social. É o menor valor de recolhimento da Previdência, e abre mercado, crédito e novas oportunidades.”
Paulo complementou:
“É um programa social que motiva a trabalhar, não a depender. Não é bolsa para ficar parado. É ferramenta para construir dignidade.”
Adriano citou casos práticos:
“Quando ela se formalizou (beneficiária do Marsúpio), passou a fornecer 17 quentinhas por dia para o empreiteiro porque podia emitir nota.”
Mudança cultural: do “informal” ao “empresário raiz”
O consultor destacou a importância da linguagem como instrumento de transformação:
“‘Informal’ soa depreciativo. ‘Empresário raiz’ soa como força, como semente que vai frutificar.”
Paulo acrescentou:
“Quando a pessoa se autoelege cidadã, ela entende que tem poder, que pode cobrar seus direitos e participar do país.”
Integração institucional e tecnologia
Câmara destacou que o Marsúpio não substitui políticas existentes, ele integra.
“O programa costura o que já existe: Sebrae, Banco do Nordeste, Senai, Senac, associações comerciais.”
Paulo completou:
“É a fórmula ideal: crédito, capacitação, acolhimento e redes empresariais.”
A tecnologia também se destacou. Em teste ao vivo, o assistente do programa respondeu perguntas sobre o MEI.
“É híbrido: inteligência artificial e presença humana.” — resumiu Paulo.
Resultados práticos e exemplos
O piloto com 13 empreendedoras do Subúrbio Ferroviário de Salvador foi citado como prova de conceito.
“Muitas começaram com autoestima baixa. Hoje estão no iFood, fornecendo para mercados e ampliando produção.” — relatou Adriano.
Paulo reforçou o impacto humano:
“O sentimento delas era: ‘eu sei quem eu sou, eu sustento minha família’.”
Política pública e cidadania real
Ao final, Adriano defendeu a adoção nacional da metodologia:
“Se esse programa virar política de governo, a transformação será rápida.”
Paulo encerrou reforçando a responsabilidade individual:
“Você não precisa esperar salvador da pátria. Participe desse grande condomínio chamado Brasil.”
O podcast “É da nossa conta!” é uma produção do Portal E Aí? e da Fundação Paulo Cavalcanti. O episódio completo com Adriano Câmara está disponível aqui.