Em uma conversa franca e repleta de memórias, o advogado Francisco Catelino foi o convidado do podcast “É da Nossa Conta”, conduzido por Paulo Cavalcanti. O episódio mergulhou na vasta experiência de Catelino, que iniciou sua vida profissional aos 13 anos e dedicou 30 anos ao serviço público, oferecendo uma perspectiva única sobre as transformações sociais e políticas do país.
A vida pública e os anos na UFBA
Filho de imigrante espanhol, Catelino narrou com orgulho o início de sua jornada: “Fui criado trabalhando desde os 13 anos, tenho minha carteira profissional assinada desde os 13 anos”. Já a carreira pública começou aos 19, como assessor na prefeitura, e logo em seguida foi levado para a Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde atuou como assessor de reitores e pró-reitores.
Foi na universidade pública que ele testemunhou de perto a efervescência política e o movimento estudantil. Ele recorda figuras que hoje ocupam posições de destaque na política nacional, como Rui Costa, Alice Portugal, Nelson Pellegrino e Zé Neto, descrevendo a atuação deles como “muito enérgica”.
Um dos momentos mais marcantes de sua carreira foi um episódio de grande tensão envolvendo um protesto estudantil contra o então senador Antônio Carlos Magalhães, em 2001. Catelino, que estava como chefe de gabinete do reitor Heonir Rocha, relatou como os estudantes, ao serem barrados pela polícia, se refugiaram na Faculdade de Direito.
A situação escalou a ponto de a Polícia Militar invadir o campus universitário. A crise mobilizou deputados, senadores e o então governador César Borges. Catelino contou como, estrategicamente, os estudantes convenceram o reitor a se deslocar para o estacionamento da faculdade, que era maior, colocando-o na frente da passeata. “O senador entendeu que o reitor também estava na passeata”, explicou Catelino, ressaltando que a percepção foi de que o reitor havia “enfrentado o senador Antônio Carlos Magalhães, que na época era temido”.
Críticas ao presente: educação, valores e Poder Judiciário
A conversa, mediada por Cavalcanti, evoluiu das memórias do passado para uma análise crítica do Brasil contemporâneo. Paulo Cavalcanti iniciou uma reflexão sobre como a legislação atual, que restringe o trabalho de menores, pode ser “utópica” para a realidade do país, contrastando com a história de muitos que, como Catelino, começaram a trabalhar cedo.
Catelino concordou, apontando para uma profunda crise na educação. Segundo ele, há uma grande diferença em relação a décadas atrás, quando os professores eram respeitados. Hoje, ele observa uma inversão de valores:
“Quando o aluno faz uma indisciplina e é […] suspenso, o pai vai lá e a mãe […] são favoráveis aos alunos”. Ele lamenta o declínio do ensino fundamental, citando que muitos estudantes chegam à universidade “sem saber escrever a palavra arroz, sem saber escrever a palavra assessor”.
O debate se aprofundou na esfera política quando Cavalcanti questionou sobre a perda de credibilidade do Supremo Tribunal Federal (STF). O apresentador opinou que o tribunal “deixou de ser o guardião da Constituição para passar a querer ser protagonista de opiniões”. Catelino endossou a preocupação, afirmando que hoje se vê o STF “interferindo muito em outros poderes”. Para ilustrar seu ponto, ele citou uma fala do ex-ministro Marco Aurélio de Mello:
“Eu não sei hoje como é que os ministros (do STF) precisam de tanta segurança. Eu ando na rua, vou no supermercado, faço tudo”. Catelino conclui que, se os ministros atuais necessitam de segurança até no exterior, “tem alguma coisa errada”.
A defesa da liberdade e a Consciência Cidadã
Diante do cenário de polarização e ataques às liberdades, Catelino foi enfático ao defender os avanços conquistados pela sociedade. Comparando a dificuldade de comunicação no passado, quando uma carta de seu pai para a Espanha levava seis meses para chegar, com a conectividade instantânea de hoje, ele declarou:
“A evolução da internet, a evolução da liberdade […] não pode se dar para trás, não pode voltar atrás”. Ele argumenta que retroceder seria como voltar “ao tempo da escravidão” ou a uma época em que a mulher não tinha direitos.
Ao final, como mensagem principal, Francisco Catelino destacou a necessidade de resgatar valores essenciais para a convivência em sociedade. “O importante primeiro é o respeito com as pessoas. O que tá faltando hoje é o respeito”. Para ele, a solução para os problemas do país passa inevitavelmente por uma educação fundamental de qualidade, aliada à saúde e segurança, como pilares para o desenvolvimento.
Assista o episódio completo em: https://youtu.be/Dv05smHNXP8