Enquanto o Brasil enfrenta enormes desafios econômicos e sociais, a última semana foi dominada pela tão alardada notícia da fiscalização das movimentações financeiras acima de R$ 5 mil por mês no PIX ou cartão de crédito. Mais um assunto que reflete a ineficiência de gestão pública e a falta de visão estratégica tanto do governo federal quanto dos cidadãos brasileiros.
Em vez de buscar soluções que promovam o desenvolvimento sustentável — como educação, capacitação e estímulo ao empreendedorismo —, o governo insiste em medidas meramente coercitivas que criam desestímulo e medo. É como tentar retirar água de um poço seco, quando o verdadeiro trabalho deveria ser cavar novos poços e alimentar as fontes.
Tomemos como exemplo uma família típica da classe média emergente: um pai e uma mãe que trabalham formalmente, ganhando juntos cerca de R$ 5.200 por mês, e têm filhos que ajudam na renda como aprendizes. A renda per capita dessa família não a coloca na extrema pobreza, mas ainda está longe de oferecer segurança financeira. Eles vivem pressionados pelo aumento dos custos básicos — transporte, alimentação, saúde e educação —, enquanto assistem o governo insistir em regras que os transformam em “alvos” da fiscalização tributária, com medidas que tem gerado ameaças e desestimulo. Esses cidadãos, que deveriam ser incentivados a progredir, passam a temer que sua conquista seja vista como um luxo.
O problema central não está no cidadão que ganha um pouco mais, mas na falta de visão de longo prazo do governo. Ao invés de alardar penalizações para quem trabalha duro para melhorar de vida, é preciso criar condições para que mais pessoas alcancem essa posição. Isso significa investir em educação de qualidade agora, para todas as idades, fomentar programas de capacitação profissional que conectem trabalhadores com as demandas reais do mercado, e estimular o empreendedorismo, oferecendo apoio a quem quer formalizar seu negócio, gerar empregos e contribuir com a economia.
Contudo, o governo segue em contradição: de um lado, promove boas ações sociais, mas, do outro, as sabota ao insistir em caminhos curtos e ineficazes. Diante da falta de educação financeira e cidadã de nossa sociedade em geral, notícias como o aumento da fiscalização de quem já contribui sem, no entanto, oferecer contrapartidas, geram desconfiança e desestímulo.
Imagine, em contraste, o impacto positivo de políticas que facilitem a criação de pequenas empresas, reduzam a burocracia e ofereçam crédito acessível a juros baixos. Essas políticas poderiam contribuir para libertar famílias da dependência de programas de transferência de renda como o Bolsa Família, permitindo que elas gerem riqueza para si e para o país.
A verdade é simples: o Brasil não crescerá com terror fiscal. Crescerá quando o governo compreender que arrecadação sustentável vem do desenvolvimento das capacidades das pessoas e do incentivo ao progresso econômico. Assim como precisamos de mais fiscalização em todas as áreas da administração pública, precisamos também da geração de mais oportunidades.
Está na hora de transformar o Brasil. Isso passa por mudar a mentalidade do povo brasileiro, para que ele exija o que realmente importa: eficiência nos serviços públicos prioritários, como saúde e educação. O fortalecimento da educação cidadã nos ajudará a olhar no espelho e perceber que quem deveria ter medo é o servidor público incompetente, e não o cidadão que ganha acima de R$ 5 mil por mês.
Se queremos um país melhor, precisamos deixar de lado o medo e focar na criação de oportunidades. A verdadeira transformação só virá com cidadãos conscientes, exigindo resultados e participando ativamente da mudança.
Artigo escrito pelo nosso fundador, Paulo Cavalcanti.