A ingenuidade social e a evolução do pensamento político
É incrível como em pleno século XXI, apesar de todas as novas tecnologias que facilitam o acesso à informação e ao conhecimento, ainda vivemos em estado de ingenuidade política e social. A realidade é que não conseguimos amadurecer para perceber que precisamos acreditar e participar da constante evolução das filosofias que transformam a nossa cultura. Com isso, passamos a sofrer com a falta de um pensamento crítico que possa desenvolver hábitos reflexivos.
Ainda hoje, somos incapazes até mesmo de assumir o nosso fundamental e indispensável papel para promover a evolução desse verdadeiro privilégio que é termos um pacto social dos mais atuais e progressista do mundo, a Constituição Cidadã de 1988, reconhecida pela ampla e irrestrita inclusão social, defesa dos direitos humanos e da garantia dos direitos fundamentais como a liberdade de expressão, a livre iniciativa e o acesso à educação, saúde e moradia.
Marxismo x liberalismo
A verdade é que a maioria das pessoas se encontram estagnadas em uma polarização entre as ideologias marxista e liberalista do século XIX e XVIII, formuladas em um passado completamente diverso dos nossos dias. Teorias políticas que continuamos a abraçar como verdades absolutas, mesmo tendo sido formuladas por indivíduos com suas próprias perspectivas e interesses, o que pode levar a uma visão limitada ou tendenciosa.
Por isso, é importante abordar a política com uma mente aberta e questionar as suposições e motivações por trás desses movimentos.
Neste contexto, vale destacar que o liberalismo surgiu na Europa do século XVIII, como um movimento contrário ao domínio das monarquias e que trouxe também transformações importantes como a defesa da liberdade individual, os direitos naturais e a proteção da propriedade privada.
Já o marxismo, teve sua origem no século XIX, em um momento em que a industrialização estava mudando a paisagem econômica e social, com uma crescente classe trabalhadora, em uma conjectura pré-abolicionista da escravidão. Com isso, muitos dos princípios do marxismo foram influentes no século XX e trouxeram de positivo a preocupação com o social.
Precisamos ter em mente ainda que neste período, no Novo Mundo, e em especial no Brasil, ainda vivíamos com a mão de obra escrava.
Diante de tantas teorias, se faz necessário reconhecer as justificáveis críticas à ineficiência desses e outros sistemas políticos que vivemos durante toda a nossa história e que existem na atualidade, inclusive da nossa própria Constituição cidadã.
Consciência cidadã participativa transformadora
Sem educação, não adquirimos o devido conhecimento que nos proporcione a capacidade de construir uma avaliação crítica e, com isso, perdemos a oportunidade de exercer o nosso direito e dever de participar, ocupar espaços e contribuir para a eficiência dos serviços públicos e o desenvolvimento de mecanismos que garantam a nossa segurança jurídica.
Ao invés de buscarmos ampliar e fortalecer o nosso estado democrático de direito, nos afastamos das decisões políticas. Mesmo vivendo em um sistema político respaldado na independência, harmonia e equilíbrio entre os poderes executivo, legislativo e judiciário, e tendo nas nossas normas a previsão da participação popular e engajamento cívico, com mecanismos como referendos, plebiscitos e ação popular, não fizemos o dever de casa e continuamos enfrentando os desafios e os muitos problemas relacionados à desigualdade econômica e social, à corrupção, ao vale tudo para se perpetuar no poder, à violência e à falta de acesso a direitos fundamentais.
A constatação é que o desenvolvimento de uma nação não depende apenas da elaboração de uma Constituição pensada e instrumentalizada para ser uma das mais justas e prósperas do mundo. A realidade nos mostra que para evoluirmos e avançarmos nas conquistas sociais, precisamos de muito mais consciência cidadã participativa transformadora, sem a qual, continuaremos assistindo passivos e ingênuos à deterioração da nossa sociedade.