No mais recente episódio do podcast “É da Nossa Conta!”, apresentado por Paulo Cavalcanti, o convidado foi Walter Tannus, presidente do Sindicombustíveis Bahia. A conversa, que foi ao ar ontem, 29 de setembro, abordou temas fundamentais para o empresariado e a sociedade, desde a megaoperação policial no setor de combustíveis até a polarização política e a necessidade de uma “consciência cidadã participativa”.
Um dos pontos altos da conversa foi a recente operação que desvendou uma organização criminosa envolvendo 1.500 postos de gasolina, refinarias e fundos de investimento em um esquema de lavagem de dinheiro e sonegação fiscal. Para Tannus, o episódio, embora assustador, expõe uma verdade incômoda: “se caracteriza nessa operação a ineficiência do Estado brasileiro e dos agentes públicos”.
Segundo ele, um esquema dessa magnitude só cresce com a omissão do poder público, que permite a existência de uma concorrência desleal que prejudica os empresários que atuam legalmente. Este cenário, argumenta Tannus, deveria servir de alerta para a classe empresarial sobre a importância do associativismo.
Atualmente, dos 4.000 postos de combustível na Bahia, apenas 1.000 são associados ao sindicato. Essa baixa adesão é vista por Walter Tannus como uma “característica triste” da cultura brasileira, onde empresários confundem a entidade com um “clube esportivo” em vez de um instrumento de força e representação.
Diante da ineficiência estatal, Cavalcanti e Tannus debateram uma solução inovadora: a criação de uma certificação de gestão, onde as próprias entidades de classe, como o Sindicombustíveis, auditariam e atestariam a idoneidade de seus associados. A ideia é que o setor privado ajude a fiscalizar a si mesmo. Tannus citou a fala de uma autoridade que inspirou a proposta: “Quem tem que dizer se existe o devedor contumaz, se existe organização criminosa, quem é o bom ou mau empresário são vocês, as confederações, associações, os sindicatos”. Com essa certificação, as associações dividiriam a responsabilidade com o Estado, aumentando a eficiência e incentivando a adesão.
A conversa expandiu-se para o papel social do empresário, que, segundo Paulo Cavalcanti, vai além de gerar empregos e pagar impostos. Ele defende que é função do empresário “prover esse país de novas ideias, fazer com que esse país se movimente numa direção correta”. Ele rebate a desculpa da falta de tempo: “não pense assim, está errado. Não é concorrente você exercer a função social da empresa e buscar o lucro”.
Outro obstáculo discutido foi o “Custo Brasil”, o emaranhado de impostos altos e burocracia que atrapalha o crescimento. Cavalcanti criticou a incerteza em torno da reforma tributária, que, a poucos meses do fim do ano, ainda não permite que o empresário se planeje.
A polarização política também foi alvo de críticas. Ambos lamentaram o ambiente de ódio que divide o país. Cavalcanti declarou sua posição: “eu sou da Constituição Federal Brasileira, eu sou contra a ignorância, eu sou contra esta polarização emocional burra que leva o ódio e não ajuda”. Eles concordam que essa divisão radical só interessa “a quem está fazendo o jogo”.
Como exemplo positivo de união, citaram o caso de Feira de Santana, onde políticos de partidos rivais se juntaram para discutir projetos de infraestrutura para a cidade.
Ao final, Walter Tannus fez um apelo para que os empresários se associem e participem ativamente das discussões, agradecendo o apoio que tem recebido e anunciando novos sistemas para facilitar a participação virtual de associados de todo o estado. Ele e Cavalcanti firmaram o compromisso de levar o debate sobre o combate ao crime no setor de combustíveis para dentro da Associação Comercial da Bahia, analisando não apenas o viés da segurança, mas também o da tributação.
A conversa reforçou a mensagem central do podcast: os problemas do país são “da nossa conta”, e a solução passa pela união e participação ativa da sociedade civil organizada.
Assista o episódio completo em: www.youtube.coom/@PortalEAi