Micropolítica: a transformação começa onde estamos

Por: Movimento Via Cidadã

31/05/2025

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Quando se fala em política, muitos pensam logo nas disputas partidárias, nos corredores do Congresso ou nas decisões do Executivo. Mas há uma camada silenciosa, presente e decisiva, que transforma a sociedade de baixo para cima. É essa parcela da sociedade que constrói, nas ações do dia a dia, o que se chama micropolítica.

A micropolítica é a política do cotidiano. Está nas relações que cultivamos, nas escolhas que fazemos, nas palavras que dizemos, nos espaços que ocupamos. Ao contrário da macropolítica, que opera nos grandes sistemas e instituições, a micropolítica acontece todos os dias, no plano íntimo e coletivo. Se manifesta quando alguém se recusa a se calar diante de uma injustiça, quando há acolhimento ao diferente, quando hábitos são revistos, quando cobramos respeito nos pequenos círculos da convivência, quando participamos ativamente da solução de problemas que ocorrem exatamente onde estamos.

É por meio da micropolítica que a cultura se transforma, a mentalidade social evolui e a convivência se fortalece. Cidadãos comuns são agentes dessa transformação. Cada atitude ética, cada gesto consciente é uma semente. E essas sementes germinam, se multiplicam e, com o tempo, tornam-se forças capazes de influenciar a própria macropolítica.

Na Grécia Antiga, uma parte da população era considerada cidadã e, portanto, tinha o direito de participar diretamente das decisões da pólis. Eram homens adultos, nascidos em Atenas, excluindo-se mulheres, escravizados, estrangeiros e crianças. Embora não fosse uma democracia universal, havia ali um princípio potente: o de que governar era também dever do cidadão comum. A política não era apenas delegada; era vivida.

Com o tempo, porém, esse senso de participação direta foi se perdendo. Representantes eleitos passaram a ocupar um lugar distante e quase inatingível, enquanto os representados se afastaram, como se a democracia fosse um espetáculo e não uma construção coletiva. Quando, na verdade, a lógica democrática exige o contrário: o poder não deve se opor ao povo, mas emergir dele.

A democracia não se sustenta sozinha. Ela precisa de cidadãos ativos, conscientes e participativos. E esse é o papel da micropolítica: restaurar o sentimento de pertencimento, responsabilidade e consciência cidadã. O que você faz importa. O que você faz interfere na construção da sociedade.

Um exemplo concreto de ação da micropolítica com impacto direto na macropolítica é o Projeto de Lei de Iniciativa Popular da Via Cidadã, que propõe a dedução no Imposto de Renda para empresas que doam às Santas Casas e instituições filantrópicas de saúde. Essas entidades, segundo a Confederação Nacional das Santas Casas, são responsáveis por cerca de 61% dos atendimentos de alta complexidade no SUS, mas convivem com déficits crônicos. A proposta nasce da base: do olhar atento de cidadãos e entidades que vivem o problema. Cada assinatura, cada conversa na comunidade, cada mobilização em uma empresa é um ato de micropolítica. Quando milhares fazem isso juntos, essa força cresce, impacta e transforma.

A micropolítica está no professor que desperta o senso crítico em seus alunos, no morador que organiza uma horta comunitária, na liderança associativista que convoca uma caminhada por segurança pública. Está no líder religioso que reúne sua comunidade para refletir, assim como está em cada um de nós, quando recusamos aceitar a escola sem professor, o posto de saúde sem remédio, o bairro sem transporte, o lixo na rua. Está também na arte que provoca consciência. A canção “Brasil”, de Cazuza, por exemplo, é micropolítica em forma de melodia: a pergunta “Que país é este?” não é só um lamento; é um chamado à indignação e à ação. Não basta criticar: é preciso agir.

Micropolítica é o jeito como você trata os outros, como se posiciona em casa, no trabalho, na rua. É uma recusa silenciosa a tudo o que nos diminui ou paralisa. É uma postura de construção e resistência. Seu comportamento inspira mudanças. E as pessoas são a via da transformação.

Mas atenção: a micropolítica não substitui a macropolítica. Ela a nutre. Participar da vida democrática não significa abrir mão do voto consciente, da fiscalização dos governantes, do engajamento em pautas estruturantes. Ao contrário, significa entender a política como algo horizontal, no qual o cidadão está no centro não como espectador, mas como autor da história.

Tudo o que é decidido lá em cima precisa ser pensado a partir de quem está aqui embaixo. E esse equilíbrio só será possível quando a nossa postura cidadã cotidiana for revista.

Este é o convite que deixo: vamos fazer a micropolítica, todos os dias, onde estivermos, sem jamais nos afastarmos da luta por uma macropolítica mais participativa e justa.

O Brasil precisa da sua atitude. Desperte sua consciência cidadã e siga o Movimento Via Cidadã.

Artigo escrito por Cris Santos.