O Censo Escolar 2024, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), revelou um cenário que desafia qualquer promessa de progresso educacional no Brasil: mais da metade das escolas públicas do país não têm sequer uma biblioteca. São 114.496 unidades de ensino sem espaço adequado para leitura, o que representa 63,2% do total nacional.
Essa estatística, por si só, já é chocante. Mas a realidade vai além da ausência de livros. O levantamento aponta também que milhares de escolas operam sem condições mínimas de infraestrutura: sem internet, energia elétrica, água potável ou banheiros adequados. Em pleno século XXI, ainda há escolas no Brasil sem luz, sem saneamento e sem acesso à tecnologia básica.
🚫 Acesso ao conhecimento comprometido
Para quem acredita que o acesso à internet é um direito essencial na formação de cidadãos críticos, a situação é grave: 105 mil escolas não oferecem internet aos estudantes, representando 58,5% do total. Além disso, 127 mil escolas não contam com laboratório de informática, número equivalente a 70,4% das instituições.
Mesmo onde não há laboratórios, o uso de computadores portáteis ou de mesa também é reduzido. Mais da metade das escolas não disponibilizam nenhum tipo de equipamento digital aos alunos. Em uma sociedade que cada vez mais se estrutura sobre o conhecimento e a informação, essa negligência representa um atraso coletivo.
💧 Falta o básico: água, luz e esgoto
A precariedade da estrutura física das escolas brasileiras é inaceitável. Segundo o Censo, 6.658 escolas não têm água potável, e 2.532 não possuem qualquer forma de abastecimento de água. O problema se agrava quando se observa que 40.089 escolas não são abastecidas por rede pública de água, o que limita a higiene e compromete a saúde dos estudantes.
4.925 escolas não possuem banheiro, e 5.765 não têm esgotamento sanitário. Além disso, 2.237 escolas funcionam sem energia elétrica. Esses números não são apenas indicadores de abandono, são indicadores de exclusão social institucionalizada.
📉 Educação em retração
Em relação às matrículas, o Brasil conta hoje com 47.088.922 estudantes, uma leve redução de 0,4% em relação ao ano anterior. A maioria esmagadora está na rede pública: apenas 20% estão matriculados em instituições privadas.
As etapas do ensino se dividem da seguinte forma:
- Educação infantil: 9.491.894 alunos
- Ensino fundamental: 26.002.356 alunos
- Ensino médio: 7.790.396 alunos
- Educação profissional: 2.576.293 alunos
- EJA – Educação de Jovens e Adultos: 2.391.319 alunos
- Educação especial: 2.076.825 alunos
A soma supera os 47 milhões, pois um mesmo aluno pode estar matriculado em mais de uma modalidade.
📢 O que está sendo feito?
Questionado pelo portal Metrópoles, o Ministério da Educação informou que as ações estão sendo conduzidas por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), com destaque para o Programa Dinheiro Direto na Escola. O programa atua especialmente em escolas do campo, indígenas e quilombolas, abrangendo também salas de recursos e projetos de infraestrutura.
🧭 Reflexão do Movimento Via Cidadã
Para o Movimento Via Cidadã, é impossível pensar em um Brasil desenvolvido sem enfrentar com seriedade essas verdades inconvenientes. A falta de bibliotecas e de infraestrutura básica não é apenas um desafio técnico ou orçamentário. É, sobretudo, um reflexo da falta de consciência coletiva sobre o papel estratégico da educação pública.
Não é aceitável que milhões de crianças e jovens tenham sua formação limitada por omissão de gestores ou inércia de políticas públicas. A verdadeira transformação começa pela escola — mas uma escola viva, equipada, digna.
Se queremos formar cidadãos com senso crítico, precisamos garantir o básico. E, mais do que cobrar, é preciso participar, fiscalizar, propor, pressionar e construir soluções em conjunto com a sociedade.
Educação de qualidade não se improvisa. Se constrói com consciência, investimento e, principalmente, participação cidadã.
📌 Fonte da notícia original:
Metrópoles – Reportagem de Deivid Souza